Entrevista: Adriana Pinto Presidente da ABIH-DF e Convention Bureau
Adriana Pinto é formada em Administração de Empresas, com especialização em Marketing Estratégico, separada, mãe de dois filhos, está na presidência da ABIH-DF há um ano e sete meses, a profissional que veio da cidade de Recife-PE, atua na hotelaria e desde 1997 trabalha na Rede Accor.
São quase vinte anos ininterruptos na mesma empresa, tendo atuado em diversas funções, como Chefe de Recepção, Sub-gerente, Gerente Geral e Gerente Regional.
A profissional atuou principalmente no norte e nordeste do país até que surgiu essa oportunidade de trabalhar em Brasília em 2009 quando a profissional aceitou o desafio.
Desde que chegou em Brasília, há sete anos vem acompanhando o desenvolvimento, crescimento e a profissionalização da hotelaria local, onde as grandes redes estão chegando, se instalando, inclusive menciona o acompanhamento do crescimento de redes locais como a Hplus, que surgiu e vem crescendo a cada dia.
Paralelamente a administração familiar que era uma das características da hotelaria de Brasília vem perdendo força, e dando espaço às grandes Rede hoteleiras que praticamente passam a dominar a capital federal.
HTLNEWS: No âmbito do do turismo, principalmente de viagens internacionais tivemos um ano de 2015 conturbado e com diversos transtornos operacionais, com relação a hotelaria do Distrito Federal, como classifica o ano de 2015.
Adriana Pinto: Sofremos bastante, com a crise econômica, e também com o aumento de ofertas de hotéis na cidade, onde o número de quartos disponíveis aumentou bastante, (mais de 2.000) veio a crise e com isso caiu drasticamente a diária média(25%).
HTLNEWS: Tivemos eventos realizados no nosso país, como a Copa do Mundo, que fizeram com que a oferta de unidades habitacionais crescessem em várias cidades, e Brasília foi uma das que tiveram grande crescimento, a demanda tem crescido de acordo com a expectativa ?
Adriana Pinto: A demanda aumentou sim, se levarmos em consideração o ano de 2014 para 2015, mas não a quantidade suficiente para esta quantidade de novos hotéis que surgiram.
Então se você me pergunta estritamente se o número de visitantes aumentou neste período, eu posso afirmar que sim, mas foi pouco, considerando a desproporção da quantidade de quartos que foram disponibilizados.
Inclusive é importante ressaltar que não foram somente novos quartos que surgiram, mas, devido a expectativa gerada pelos grande eventos, apareceram também novas possibilidades de hospedagens.
HTLNEWS: Quando se refere a novas possibilidades de hospedagens, poderia especificar ao que se refere ? pois estamos falando de uma cidade planejada e setorizada onde queremos crer que as opções de hospedagens disponíveis estejam dentro das regulamentações e das setorizações que Brasília exige enquanto cidade planejada ?
Adriana Pinto: Estou falando de casas, de residenciais, que a partir do momento que se associam a sites de vendas passam a funcionar como meios de hospedagens. Temos o exemplo do “cama café” que surgiu por conta do pré-copa, e foram surgindo outros negócios que impactam nos nossos negócios.
Clientes internacionais e nacionais que utilizam a internet e procuram em sites de busca: “meios de hospedagens” vão encontrar em Brasília várias ofertas de apartamentos no plano piloto, casas no Lago, e você pode até alugar um quarto que está sendo disponibilizado.
HTLNEWS: É muito fácil perceber que em Brasília tivemos um crescimento enorme na oferta de novo hotéis, principalmente no Setor Hoteleiro Norte, onde surgiram vários empreendimentos, existem números que nos traduzem este crescimento ?
Adrinana Pinto: Do final de 2013 até hoje são quase três mil novos quartos na cidade, então isto impactou pra que a ocupação de 2014 que foi de 63% tivesse uma redução com relação ao ano de 2015, que ficou na casa de 50%.
Aconteceu também que devido esta questão da oferta e demanda o preço da diária média caiu cerca de 25%, porque se temos uma referência de ano de Copa do Mundo no Brasil, com sete jogos realizados no estádio que foi construído em nossa cidade, movimentando bastante a cidade e consequentemente a hotelaria, mas foi apenas naquele período, e elevou muito a diária média do primeiro semestre de 2014, então quando se faz a comparação do REVPAR(receita por quarto disponível) de 2015 com relação a 2014 a diferença é cerca de 35%.
HTLNEWS: Brasília sempre teve a questão da sazonalidade, onde tínhamos praticamente 100% de ocupação durante a semana e uma queda drástica aos finais de semana, isto se mantém ou diante da estrutura montadas para grandes eventos e shows, de alguma forma podemos considerar que melhorou ?
Adriana Pinto: Melhorou um pouco sim, não uma quantidade que se justifique, as folgas das equipes dos hotéis são basicamente concentradas nos sábados e domingos.
Então podemos dizer que 50% da operação dos hotéis de Brasília folgam no sábado e os outros 50% folgam no domingo.
No geral isto ainda não conseguiu ser mudado, melhorou, mas não o suficiente.
Quanto a ocupação de 100%, gostaria de enfatizar que isso acontecia apenas nos dias de terça e quarta feira, ou seja, dois dias e quando a semana não tivesse feriado.
HTLNEWS: Uma das formas de diminuir esta sazonalidade seria a ferta de preços atrativos para os moradores de Brasília e das cidades satélites como Águas Claras, Viicente Pires, Guará, Taguatinga e outras ciddades que se deslocam para shows, festas e eventos, e que não voltariam para casa dirigindo após possivelmente ingerir bebidas alcóolicas, acha que isto é uma ação viável ou não teria nenhum impacto significativo ?
Adriana Pinto: Nós não temos estatísticas a respeito desses dados, de forma que não posso passar dados precisos, mas posso afirmar que aos finais de semanas nós temos também um público local, e quando digo local envolve tanto moradores do Plano Piloto, como das cidades satélites e entorno.
HTLNEWS: Temos duas questões que impactam de forma muito relevante a hotelaria da nossa capital, a questão política e a área de eventos, hoje é possível mensurar o grau de importância dessas duas áreas ?
Adriana Pinto: Quando falamos político, sim é o maior responsável do movimento da capital, mas é importante falar do apelo federal dos três poderes( Executivo, Legislativo e Judiciário). Também temos movimentos advindos das Autarquias, Bancos e Centrais de Energia.
HTLNEWS: Com relação ao turismo de eventos, temos algumas características que nos permitem sermos competitivos neste setor, e uma das características que Brasília tem e a questão da localização dos hotéis e facilidades de deslocamentos. Porque não somos mais fortes neste segmento ?
Adriana Pinto: Além de não termos grandes estruturas para realização de eventos, ainda temos a concorrência de grandes centros urbanos que dispõem de mais estruturas do que nossa cidade.
Adriana Pinto: Se formos falar unicamente do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, trata-se de um espaço obsoleto que não se atualizou. Inclusive até agora não temos lá uma cozinha industrial, o que prejudica e encarece diretamente o trabalho dos organizadores de eventos e os espaços não são todos climatizados. Há também o problema de falta de estacionamento.
Temos outras opções da iniciativa privada como o Centro de Eventos Brasil 21, o Centro de Convenções Internacional do Brasil – CICB , e também o Hípica Hall, mas a falta de incentivo e maior apoio do governo na captação desses eventos é um fator que impacta negativamente para a captação de eventos de médio e grande portes para nossa cidade.
Enfrentamos outras cidades nas captações, que têm maior poder de fogo, por conta da ajuda direta dos governos locais.
Além disso, nosso Convention Bureau é mais prejudicado que os outros, por conta da fraca arrecadação da “room tax”, que representa 80% do seu faturamento. Os hóspedes do Governo, das autarquias e das empresas públicas não contribuem com essa taxa. E Brasília tem grande ocupação desses hóspedes.
Por outro lado, os grandes congressos, que envolvem mais de 2.000 pessoas, têm interesse pela nossa cidade. Gostam de fazer seus eventos aqui.
HTLNEWS: Percebemos também que Brasília que tinha uma hotelaria dominada por administrações familiares também está passando por uma transição já algum tempo, onde as bandeiras nacionais e internacionais passaram a dominar o mercado, trata-se de uma tendência ou uma necessidade ?
Adriana Pinto: Podemos considerar que são os dois fatores, é uma tendência mas também uma necessidade, o perfil do cliente mudou. Então quando você me fala da crise das agências de viagens, e isto já vem acontecendo a algum tempo, se dá porque o cliente final que compra através de uma agência de viagens mudou.
É importante ressaltar que as agências grandes que se mantém, elas tem o perfil mais de consultoras e apoiadoras do que um agente. Assim é o cliente, ele entra nos sistemas de reservas das suas empresas via internet e enxerga os hotéis disponibilizados naqueles canais de distribuição e ali fazem suas reservas.
Este processo tem um custo alto, então se não for uma empresa que tem esse poder, ou podemos falar de disponibilidade de investimento, acaba ficando pra trás, o custo de uma reserva para empreendimentos que não fazem parte de uma rede fica muito cara, pois eles acabam ficando na mão dessas empresas on-line como Trend, E-htl, Booking, Expedia, Hoteis.com, entre outras.
Então eu digo que é uma tendência e uma necessidade.
HTLNEWS: Então a senhora está dizendo que dentro desta tendência, trabalhar individualmente é um processo difícil e complicando diante de um mercado globalizado ?
Adriana Pinto: Certamente, as grandes redes e os hotéis que fazem parte deste processo conseguem ser vistos globalmente, esse fator é fundamental pra você está na prateleira junto com grandes empresas.
Um hotel único, será cada vez mais difícil se manter no mercado, tanto que se analizarmos hotéis que eram tradicionais, de empresas familiares, como por exemplo o Naoum Plaza Hotel, entregou a sua administração para a Rede Windsor. Outros que não conseguiram se atualizar foram impludidos e quando são reconstruídos e reinaugurados normalmente são operados por redes.
Os hotéis do Lago que eram administrados pela Blue Tree, atualmente fazem parte da BHG. Além dos outros exemplos que mencionei em Brasília, a rede Ponte de hotéis em Recife após 30 anos de mercado, com grandes empreendimentos como Mar Hotel, Atlante Plaza e Summerville optaram por entregar os hotéis para administração da Rede Accor.
HTLNEWS: Realmente é algo que merece uma análise sobre o mercado, estamos falando da Pontes Hotéis que tem três empreendimentos fantásticos, mas será que com administração familiar eles eram conhecidos na China, Índia, Estados Unidos e demais países que tem demanda de hóspede para o Brasil ?
Adriana Pinto: Não basta ser forte no Brasil, com o mercado globalizado é importante estamos presentes em todos os mercados, e individualmente é muito difícil se fazer presentes nos cinco continentes.
Quando você utiliza os grandes sites de reservas de hotéis onde se encontram várias cadeias hoteleiras, você só entra em contato direto com o hotel esporadicamente para fazer uma comparação de preço e concluir o processo de compra.
HTLNEWS: Não podemos deixar de afirmar que mesmo nesses sites de buscas de meios de hospedagens, á partir do momento que existe uma bandeira por trás já transmite tranquilidade aos hóspedes que sabem que existe um padrão de qualidade por trás daquele hotel.
Adriana Pinto: Exato, trata-se da garantia de segurança que o hóspede vai ter.
HTLNEWS: Já é possível mensurar o resultado da estrutura que foi montada para a Copa do Mundo e claro, de uma expectativa que indicavam que trariam resultados com a realização de shows, eventos e outros atrativos ?
Adriana Pinto: Tivemos um movimento até significativo em virtude do calendário de jogos em Brasília, mas lamentavelmente posso afirmar que o momento pré-copa foi muito mais movimentado do que o pós-copa, de forma que ainda não estamos usufruindo do legado que o evento prometia nos deixar.
HTLNEWS: Voltando a falar do mercado e de crise econômica, várias operadoras simplesmente deixaram de atuar e encerraram suas atividades, no mercado hoteleiro existem investimentos milionários e um grande patrimônio envolvido, podemos entender que desta forma o impacto é menor ? As decisões adiministrativas e financeiras são mais complexas ?
Adriana Pinto: O impacto negativo é muito grande, os novos hotéis que foram instalados em Brasília estão praticando diárias no mês de Janeiro que dificilmente pagarão os custos operacionais.
Naturalmente isso muda, principalmente porque tradicionalmente em Brasília trata-se de um mês de baixa demanda. Quando se aplica diária média muito baixa entendemos que é apenas para se manter uma equipe treinada, um movimento no hotel, empatar custos, mas que é impossível ganhar dinheiro desta forma.
Então trata-se de uma ação que faz parte de um investimento, que trará retorno no futuro.
HTLNEWS: Então qual a análise do setor de hotelaria com os demais setores do turismo, como já mencionamos a agências e operadoras ?
Adriana Pinto: Dentro desta reflexão de impacto maior ou menor, se analisarmos pelo ponto de vista que o maior número de hotéis são constituídos como apart ou flats, e que esse tipo de empreendimento tem vários proprietários, poderíamos concluir que a hotelaria sofre menos, pois o ônus e o bônus é dividido por um grande número de investidores.
E que predominantemente são investidores, onde a principal fonte de renda dos mesmso não é o ramo de hotelaria, enquanto que no seguimento de agentes de viagens e operadores de turismo trata-se do negócio principal dos empresários.
Contudo, não podemos esquecer que para cada “cota parte” de investimento, seja quarto de hotel ou cota de participação no empreendimento hoteleiro, os prejuízos são também proporcionalmente altos causados por esse cenário de baixos resultados.
HTLNEWS: Enquanto entidade, existe um planejamento ou ações sendo tomadas em conjunto com os hoteleiros que permita trazer para Brasília mais eventos e shows e até mesmo iniciativas junto ao governo para melhorar a taxa média de ocupação ?
Adriana Pinto: Sim, já faz algum tempo que a ABIH-DF e o Convention Bureau dividem o mesmo espaço físico com a finalidade de juntar forças e trabalhar melhor os objetivos em comum. Isso facilita em vários aspectos.
Atualmente inclusive, neste momento que estamos conversando a presidência é única, eu sou a presidente tanto da ABIH quanto do Convention Bureau.
HTLNEWS: Como funciona o relacionamento com a ABIH Nacional que inclusive está com uma nova diretoria, existem ações conjuntas e projetos comuns com as estaduais ou as ações acontecem de forma mais independente ?
Adriana Pinto: Os projetos são compartilhados. Quando fui convidada a assumir a presidência da ABIH-DF e sabemos a importância de mantermos a entidade ativa, os próprios colegas hoteleiros se disponibilizaram a dividir as atividades, então quando eu não posso ir a uma reunião, um dos conselheiros vai, de forma que possamos sempre estar representados.
Todo o interesse da ABIH Nacional é também das regionais, pois esse é o principal objetivo da entidade: representar as ABIH estaduais e Distrital. Um dos exemplos é o ECAD, nós ainda não nos damos por vencidos, então alguns hotéis começam a pagar, outros conseguem ganhar em primeira instância, outros ainda estão esperando por julgamento, mas a verdade é que não nos demos como vencidos e nem nos daremos.
E nesse assunto a ABIH Nacional é o “guarda-chuva” maior, mas todos estados continuam lutando em prol da categoria e trocamos as novidades e possibilidades, pois é importante ressaltar que os interesses da nacional são os mesmo das estaduais.
HTLNEWS: A ABIH é formada por profissionais na sua maioria com grande poder aquisitivo, e o número de hotéis no país é gigantesco, envolvendo um grande número de profissionais e consequentemente muito importante para a economia e fundamental para o turismo, diante disto acredita que a entidade tem tido participação ativa nas discussões do setor dado a sua importância e relevância ?
Adriana Pinto: As vezes nós só tomamos conhecimento de determinadas pautas quando já estão prestes a serem votadas, então temos que correr atrás do prejuízo e tentar impedir que determinadas coisas prossigam.
Poderíamos ser mais utilizados, ou melhor, consultados em matérias que nos dizem respeito: tanto a ABIH quanto o Convention Bureau (Brasilia).
HTLNEWS: Gostaria que finalizasse um pouco falando da entidade, das perspectivas e de ações previstas para os próximos meses para o fortalecimento da mesma e claro do setor como um todo.
Com relação a este ano que se inicia, acredito que seja um ano muito parecido com o ano de 2015 em termos de ocupação. A demanda deve continuar aumentando timidamente, porém, ainda tem hotéis novos para abrir. Quanto aos ajustes de adequação de equipe em relação a ocupação entendo que os empreendimentos já tenham feito. É provável que tenhamos um crescimento de diária com relação ao ano que passou, mas a ocupação acredito que deve se manter no mesmo patamar.